domingo, 16 de janeiro de 2011

Entrevista do El País a membros do Anonymous

O site espanhol El País publicou uma matéria sobre o Anonymous, grupo que apoiou o Wikileaks e um dos principais responsáveis pelos ataques DDoS e boicotes a favor de Assange. O site entrevistou virtualmente (já que negaram qualquer contato por telefone ou pessoal) alguns membros espanhóis do grupo, que deixaram bem claro que não são porta-vozes de ninguém. Segue abaixo a entrevista feita (em tradução livre). A matéria original pode ser acessada clicando aqui .





Pergunta: Pode-se dizer em números quantas pessoas na Espanha pertencem ao Anonymous? E em nível internacional?

Resposta: Seria impossível dizer em números, e essa é a graça de Anonymous. Inicialmente, temos que lembrar que é uma organização que não existe e que por definição é uma (des)organização. Anonymous não é ninguém e pode ser qualquer um. Apesar do fator distância, é como uma organização insurgente baseada em células. Compartilhamos uma marca, Anonymous, porém somos pessoas independentes, que respondem a uma ideologia em comum e que participam de cada ação particularmente, de acordo com se coincide ou não com suas convicções.

Tendo o anterior em conta, e especificamente na Espanha, se tivéssemos que dar um número, creio que estaríamos falando de 1000 a 2000 pessoas, que vão de diversos níveis de compromisso, desde uma maioria - que seriam os que apóiam nossas iniciativas no Twitter, Facebook, etc - até os mais comprometidos, que seriam algo de mais de 100 - os que participam saindo pelas ruas com ações reais como, por exemplo, a Operação Paperstorm [distribuição de folhetos, flyers, etc] ou as concentrações da Operação Demonstración [manifestações na Espanha a favor de Wikileaks e contra a lei Sinde]. A nível internacional poderíamos estimar dezenas de milhares, possivelmente.

P: Desses, quantos participam nos ataques DDos?

R: Aqui sim podemos dar números mais exatos. Nos ataques de 20 de dezembro contra a lei Sinde contávamos com quase 500 usuários conectados na “Colmena”, que é o sistema de comando e controle da ferramenta de DDoS, LOIC - que permite que todos os anonymous  ataquem a um mesmo tempo a um mesmo objetivo. Este número, entretanto, poderia ser mais alto, se somássemos as pessoas que o fazem manualmente ou através do Linux.

P: Alguma iniciativa nas ações de Anonymous teve sua origem em conversações do Anonymous da Espanha?

R: Na verdade não é possível diferenciar entre os Anonymous de tal ou qual país. Quando se planeja uma operação, se esta for relevante, recebe apoios de todo o planeta; houve apoios a nossa luta contra a lei Sinde em dezembro e ainda esperamos mais futuramente. Prova disso é esta convocatória redigida em mais de 15 idiomas, na que tem participado anonymous de todo o mundo, qual se faz uma chamada a todos os anonymous a apoiar os protestos virtuais contra a lei Sinde.

P: Em que fóruns ou sites vocês se mobilizam?

R: Nosso principal ponto de encontro não é um site ou um fórum, mas uma rede de chat conhecida como IRC, nós o chamamos de IRC Anonops. Aqui nos reunimos em diversos canais de discussão como #operationpayback ou #hispano, este último, é o que aglutina os anonymous espanhóis, e as estratégias são apresentadas e colocadas em comum. As que são destacadas logo são distribuídas à rede por blogs e web anonymous, até chegar ao Twitter e Facebook de anonymous individuais. É uma estrutura perfeitamente organizada qual, sem dúvida, não existem líderes nem nenhuma fonte inicial.

P: O que diria às pessoas quais classificam vocês como hackers?

R: A maior parte dos anonymous não são hackers no sentido clássico da palavra, são usuários de Internet como qualquer outro, só que com uma motivação para o ativismo digital. O que podemos dizer é que contamos sim com hackers entre nossos membros. Por exemplo, o pessoal que administra os servidores de IRC e o resto das redes de comunicações encriptadas, os que programam LOIC [Low Orbit Ion Cannon, aplicativo utilizado para os ataques de negação de serviço (DDoS)] e as ferramentas de ataques. Aqui está a grandeza do Anonymous, só necessita de um gênio informático para programar a ferramenta, e quando esta passa a ser usada por milhares de pessoas anônimas, ainda que não sejam experts de informática, é como contar com um ciber-exército de milhares de hackers que podem inutilizar qualquer rede ou sistema virtual, se isso for proposto.

P: Quais são os princípios básicos de seus ideais?

R:  São poucos e terrivelmente simples, o que permite unificar a maior quantidade de gente possível. Anonimato absoluto, que supõe, entre outras coisas, a ausência total de líderes e cabeças visíveis no nosso movimento; a luta contra a corrupção nos Governos ou em qualquer estrutura de poder. A defesa incondicional da liberdade na Internet.

P: Existe o perigo de que alguém tente manipular suas operações internamente?

R: Seria impossível, já que cada anonymous atua de forma individual, ele mesmo decide se faz ou não parte de uma operação de forma totalmente independente do resto. Se pensar em organizações reivindicativas do século XX, sempre houve o risco de que um grupo se infiltrasse e com o tempo chegasse a formar parte da liderança, para desmanchar a organização por dentro; isso seria impossível com anonymous, pois não existem líderes, tampouco se segue uma hierarquia formal. Entretanto, sabemos que existem agressões externas contra Anonymous, como a investigação do FBI aberta por motivo dos ataques DDoS à Mastercard e PayPal, ou sofisticados ataques cibernéticos que temos sofrido e suspeitamos  que eles provêem de serviços de inteligência ocidentais; infelizmente, nesses casos a natureza descentralizada de Anonymous também torna impossível qualquer interferência externa.

P: Quais são as atuais preocupações do Anonymous?

R: O importante, a verdadeira preocupação, é seguir lutando pelos princípios de nosso ideal, e em função disso estamos trabalhando em várias operações. Está em andamento a publicidade de fase 2 da Operação Sinde, que consistirá em diversas ações de protesto em torno do dia 18 de janeiro, que termina o prazo de apresentação de emendas à referida lei. A nível mundial está em andamento a Operação Tunísia, em apoio aos manifestantes contra o regime tunisiano: temos realizado ataques DDoS contra diversos sites oficiais e também foi elaborado um kit de ajuda digital com programas de criptografia e comunicações para os dissidentes tunisianos. Em relação ao futuro estamos preparando a Operação Quicksilver, que, se tiver êxito, irá abalar a Internet, mas, por sua própria natureza, os detalhes são secretos pelo momento.

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