sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O Wikileaks explicado pela sua correspondente brasileira

O debate “Wikileaks: o que está em jogo?”, organizado pelo coletivo Intervozes e entidades de democratização da comunicação, no Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, nesta quarta-feira, contou com palestra da jornalista Natalia Viana, colaboradora do Opera Mundi e responsável por divulgação independente de material do Wikileaks no Brasil. Para ela, o mais interessante do website é o fato de ter demonstrado que “é possível democratizar o acesso à denúncia”. De acordo com ela, o objetivo do “Wikileaks” não é o “furo” jornalístico ou a novidade, mas divulgar documentos que revelem mentiras e erros de governos.
“O que o Wikileaks está fazendo é demonstrar um império em decadência”, sentenciou.


Estratégia
Natalia Viana explicou que, desde o início do chamado Cablegate, há três semanas, houve uma mudança de estratégia na forma de o site divulgar os documentos.
“As informações sobre a guerra do Afeganistão e do Iraque foram disponibilizadas todas de uma só vez e isso fez com que muita coisa importante não fosse vista”, disse Natalia.
Atualmente, o site Wikileaks vem divulgando os documentos em partes. O critério dos documentos que são divulgados, explicou, obedece à abrangência internacional da notícia. Na América Latina, de acordo com a jornalista, somente ela e dois jornais – Folha de S.Paulo e O Globo - possuem acesso direto às informações.

Parcialidade
Parte das perguntas feitas pela plateia demonstrou preocupação com a possibilidade de veículos da grande mídia realizarem uma cobertura parcial das notícias. Questionada sobre quais foram os critérios para o Wikileaks escolher os dois veículos, a jornalista explicou que a organização levou em conta o grande público que esses jornais conseguem alcançar.
“Sem a divulgação dos grandes jornais, o Wikileaks já poderia ter sido sufocado. O site tem procurado parceiros em diversas regiões para que eles possam traduzir e divulgar as informações que dizem respeito a questões internas. Eles estão procurando contatos em outros países da região para divulgar as informações, mas ainda não tem nada certo”, justificou. “O Wikileaks continua publicando os documentos. O público pode acessar o site e fazer a sua própria avaliação”.
Ela criticou também a diferença de tratamento recebido pela organização e pelos veículos que divulgam os mesmos documentos.
“O Julian Assange é classificado como criminoso. Mas isso não acontece com os donos dos grandes jornais”, comparou.

Espionagem
Os EUA têm demonstrado bastante preocupação com os vazamentos e a forma como eles podem afetar as relações do país com o resto do mundo. O militar norte-americano Bradley Manning, principal suspeito de ter copiado os documentos confidenciais dos arquivos do Pentágono, está preso desde maio desse ano.
“O Departamento de Estado norte-americano declarou que está procurando um dispositivo legal que permita condenar Julian Assange. Isso é um absurdo”, comentou Natalia.
Segundo Natalia, o Wikileaks não pode ser acusado de ter espionado o país, pois o que a organização tem feito é apenas divulgar informações que recebe de outras fontes, cujo anonimato garante proteger.
“Boa parte dos documentos divulgados no site poderiam ser obtidos pelos estadunidenses por meio de processos legais”, disse a jornalista.

Edição e anonimato
Uma das principais acusações feitas ao Wikileaks é possibilidade de que os segredos expostos coloquem vidas em risco. No entanto, a equipe do website se preocupa em preservar o anonimato de pessoas mencionadas que possam ser ameaçadas por causa das informações que revelam.
“O trabalho de edição do site visa impedir que isso aconteça. Se for entendido que a vida de determinada pessoa pode ser colocada em risco, o nome dela não é revelado”, explicou Natalia Viana.
O evento também teve transmissão online e, durante as discussões, chegou a ficar na primeira colocação dos trending topics do Brasil, os assuntos mais discutidos do twitter. Mais cedo, no centro de São Paulo, manifestantes fizeram um protesto com cartazes que exigiam a libertação de Assange, preso na Inglaterra durante mais de uma semana. Ele foi solto na tarde desta quinta-feira.

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